sexta-feira, 25 de março de 2011

Uma confissão.

De fato eu havia prometido para algumas pessoas que voltaria a escrever, mas como puderam ver até agora não produzi absolutamente nada. Juro que tentei, até tive algumas idéias que iam de um trágico conto sobre a insanidade (ô, que original) até confissões da miséria humana, mas não importa o quanto eu amadurecesses as idéias elas não deixavam de ser simples faíscas. Por quê? Simplesmente porque eu não sabia como começar as histórias. O meio e o fim já estavam prontos há muito tempo em minha cabeça, mas o inicio tornou-se um obstáculo que o tempo revelou instransponível.


Só eu sei quantos dos mais brilhantes textos que a humanidade jamais verá ficaram retidos na fonte, porque eu simplesmente não sabia por onde começar. Textos estes que poderiam mudar a forma de pensar e poderiam despertar outro nível das emoções mais comuns, porém todos foram sepultados na tumba do “poderiam”. Quantas horas eu perdi, olhando para uma folha de papel em branco com as palavras mais magníficas, que nunca serão escritas, em mente. Agora esse tempo parece incontável, tempo que muitos não tiveram e eu gastei para tentar recriar somente mais uma vez aquela sensação que apenas os escritores conhecem.

Para aqueles que não a conhecem, tentarei (apesar de duvidar que com a minha capacidade consiga) descrevê-la. Um momento único, um breve instante de êxtase onde a face do escritor encontra-se com a de um imperador, um déspota, um deus! Onde um simples ser humano tem em suas patas imundas a glória e o poder que somente as divindades deviam conhecer, regendo a seu bel-prazer um número interminável de coisas. Do micro ao macro, do universo à mente humana. Absolutamente tudo está sobre o seu poder e seus caprichos. E é esse sublime momento, no qual somos tirados da mísera condição humana e nos tornamos algo mais (Deuses é o que você quer dizer, por que não dizer?), é a sensação que somente nos podemos sentir.

Àqueles que estiverem maravilhados com esta sensação devo advertir que ela é totalmente efêmera (como meus pensamentos?) e ao mesmo tempo em que encanta torna-se um vício insaciável. Uma interminável, porém deliciosa tortura para a alma e para a mente, que ao mesmo tempo em que machuca por corroer tudo que vê pela frente (será que até sua sanidade?) é também o momento mais sublime da existência. E como qualquer boa droga que perde aos poucos o efeito, esse sentimento de onipotência também vai se perdendo com o tempo. Exatamente ai que mora meu desespero, porque para alguém que um dia fora um déspota onipotente a simples idéia de voltar para a grande massa de estrume de onde saiu é incrivelmente perturbadora (com certeza a minha sanidade!). Mas diferente dos viciados comuns, estes reis sem coroa não podem simplesmente comprar a sua droga, são forçados a recriar a tão inexplicável sensação.

E se por acaso a alcança sente-se novamente soberano sobre tudo e todos, mas em breve (mais rapidamente que da primeira vez) ele será jogado novamente a sarjeta com um desejo ainda mais ardente de ver novamente os raios da glória de outrora. E à medida que tenta retomar essa glória ela parece mais breve e cada vez mais obstáculos aparecem. Até que um deles torna-se insuperável.

Aparentemente quando se chega a esse ponto do antigo deus, devido às inúmeras ascensões e quedas, só resta um pária rastejando na imundice. A sanidade talvez já esteja por um fio (e por que não a manda logo pro inferno? Tudo seria melhor) e lutar contra os obstáculos parece ser impossível (seu incompetente!). As chamas das primeiras palavras dão lugar a uma mistura bolorenta de frustração e mágoa que vai se alastrando como uma peste pelos cantos vazios da mente que a cada dia são mais comuns (e assustadores) e o amargo gosto do fracasso é insuportável. Escrever deixa de ser um prazer, uma forma de se expressar e torna-se uma obrigação. Tudo parece uma grande porcaria, cópias e mais cópias do que os verdadeiros mestres escreveram outrora (como um verme como você ousa citá-los?).

E mesmo que por algum milagre pensemos ter superado esse deserto e chegado à terra prometida, não encontramos aquele brilho a muito esquecido e sim um bando de salteadores que só estavam esperando o momento para apontar sua lamina fria e levar o último fio de espera.

 Nesse momento o desespero cresce uma onda de infinita cólera embriaga nossos olhos e aquelas palavras que pareciam tão boas revelam-se como o mais pútrido esterco (igual a você que um dia foi um rei) e o simples fato delas existirem é terrivelmente doloroso, como um ataque de vespas do qual a única forma de se livrar é incinerando-as. (Isso mesmo queime tudo! Reduza a cinzas tudo que te machucar. Se preciso até você mesmo!).

E quando o sangue finalmente se acalma, só restam os destroços daquilo que levou um tempo infinito para ser criado (talvez você devesse destruir só a você) e que talvez fosse a sua passagem para fora dessa imundice onde foi aprisionado por sua própria incompetência. A massa bolorenta deixa o estômago de uma maneira violenta contaminando tudo pelo caminho, mas ao chegar à boca para e lá seu gosto se mistura ao amargo do fracasso e essa aberração de sabores refaz seu caminho de volta as entranhas deixando sua marca por todo o caminho (cada vez mais intensa a cada novo ataque).

Como se não bastasse apenas essa maldita tortura interna, ainda existe a pressão daqueles que as suas palavras (as verdadeiras palavras. Não essa merda que você escreve agora) encantaram como uma sereia que atrai os marujos para o mar. Lá estão eles, cheios de suas perguntas insolentes: quando sai algo novo? Por que demora tanto? Você realmente está escrevendo? (todos deveriam queimar. Como ousam apressar um deus?). E cada uma dessas perguntas é como flechas perfurando o seu pulmão (e eles são uns abutres isso sim).

Talvez você não esteja entendo nada e eu peço desculpas por ter me desviado tanto do assunto (por que se desculpar com esses abutres? Não vê que eles só estão te usando?), acho que tive um daqueles ataques entende? Mas você não entende o que é ter sua vontade esgotada e ainda sim rastejar e se forçar a fazer algo que antes era um deleite, mas que o tempo transformou em dor. Nunca vai saber o que é ver sua onisciência se transformar na mais pura insanidade e ter ciência disso. Para você querido leitor, os destroços de cada ataque de fúria que em um segundo destrói o trabalho (a porcaria, você quis dizer) que levou uma eternidade para ficar pronta. Porque nunca teve o prazer de sentir dono de toda a existência (e nem poderia, não é digno) e em toda a sua mediocridade não percebe que está chafurdando na lama, mas EU sei o que é ser um DEUS. Somente EU sei o sofrimento que é viver dessa maneira medíocre que você acha normal. EU SEI O QUE É SOFRER.

Desculpe-me novamente se me descontrolei, mas você não tem noção do que a frustração é capaz de fazer a um homem. O engraçado é que mesmo agora, escrevendo essa confissão da minha incapacidade recordo-me que outros já fizeram coisa semelhante e não foram tão patéticos, não agiram como se quisessem ter toda a atenção para si reclamando de seu sofrimento (e foi nisso que você se tornou? Um plagiador? Nada mais digno de pena). Lembro-me que em sua despedida deste mundo um homem disse estas palavras: Saio da vida para entrar na História. Mas para um plagiador barato como eu, seria mais apropriado dizer que saio da vida para retornar ao nada. (Isso mesmo ponha um fim e tudo que te machuca.) 

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